Dez coisas sobre as minhas férias este verão

“Apneia” andou a dançar pelas minhas redes sociais há cerca de dois ou três anos, como uma folha solta ao vento, de publicação em publicação, aguçando-me a curiosidade, sempre que me surgia no “scroll down”. Resisti à tentação de o comprar, porque outras prioridades financeiras foram sempre surgindo, até que a minha mãe mo ofereceu (no Natal? Aniversário?) e eu vetei-o ao exílio da estante até surgir a vontade de – finalmente – o ler.

A vontade e a coragem, que são quase 700 páginas e uma lombada que impõe respeito, sobretudo a esta mãe de dois, que tem o tempo todo contado, entre deveres familiares e exigências do trabalho. No tempo que sobra livre, tem havido pouca vontade para os devaneios de antigamente (por norma, cedo fácil ao embrutecimento das redes e às séries ali à mão que os serviços de streaming sugerem).

Mas vieram as férias de verão, a promessa de dias mais compridos, tempo mais esticado, e o “Apneia” acabou por entrar na mala de viagem. Li-o em três tempos. Por isso, o maior feito que lhe reconheço foi o de me ter reconciliado com a leitura. Dei por mim de livro em aberto nas situações mais inusitadas – no restaurante à espera que a comida chegasse ou a andar pela casa, – algo que não acontecia há largos anos.

A escrita de Tânia Ganho é leve, bonita, envolvente. Fácil sem se tornar simplista. Poética sem roçar a arrogância. Quotidiana sem cair no banal. Foi muito reconfortante deixar a realidade cá fora e mergulhar naquele mundo de Adriana, Alessandro e Edoardo, o trio de personagens que compõe a história.

Contudo, muitas vezes tornou-se duro de ler. Angustiante até. “Apneia” foca-se nos emaranhados do divórcio e no impacto que pais em conflito – e uma justiça sem ação, burocrática e kafkiana – pode vir a ter nas crianças e na formação, afinal, de seres humanos. É um livro que pode ser um soco no estômago para muitos pais. Também para muitos filhos.

O título não podia ser mais adequado. Muitas vezes também nós nos sentimos em apneia, de respiração suspensa, enquanto acompanhamos aquela mãe a cair em espiral nos meandros de um jogo que não sabe nem como jogar, nem como ganhar, e se vê prestes a perder o seu bem mais precioso. Às vezes dá vontade de abanar Adriana. “Acorda! Reage!”

Por essa internet afora, noutras críticas a esta obra, há quem se queixe do final. Eu gostei do final. Mas partilho do sentimento de estranheza com que fica no fim. Atribuo-o não à forma como a autora decidiu encerrar a história, mas antes ao ritmo da narrativa.

Os primeiros três quartos do livro são vagarosos, detalhados, mesmo que por vezes turbulentos e asfixiantes. E, de repente, quando parece que nos encaminhamos para o final, há uma reviravolta e uma sucessão de acontecimentos que soam a atropelos, muitas vezes mal explicados e sobretudo mal aprofundados. E quando nos estamos a começar a refazer do choque, “Apneia” chega ao fim, e deixa-nos ali estáticos, de cabeça zonza e nó na garganta.

Pode ter sido intencional, esta montanha-russa, mas não creio que seja o caso. A verdade é que se a parte final tivesse entrado no mesmo passo do arranque, o livro

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